Sínodo da
Família: boas novas a partir da Boa Nova
Portador de uma mensagem importante é o Sínodo Ordinário sobre a Família, que
acontece este mês em Roma, entre 4 e 25 de outubro de 2015.
E como acontece?
Surgiu um escrito na III Assembleia Geral
Extraordinária do Sínodo dos Bispos de outubro de 2014. Tratava dos “Desafios
pastorais da família no contexto da evangelização” e agora foi enriquecido com as respostas ao questionário
enviado a todas as Conferências Episcopais do Mundo. Este culminou na elaboração do “Instrumentum Laboris” (Instrumento de trabalho),
que contém 80 páginas e três partes essenciais divididas em capítulos. Servirão
para nortear as reuniões durante quase um mês, constituindo-se em um texto-base de referência para os
trabalhos deste Sínodo de 2015.
Tal evento será instigante
e de proporção mundial, no intuito de tratar “A vocação e a missão da
família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Propõe-se em uma primeira parte à “Escuta
aos desafios sobre a família” (sobre a família e o contexto
antropológico-cultural, a família e o contexto socioeconômico, família e
inclusão, família, afetividade e vida). A
segunda parte é denominada “Discernimento sobre a vocação familiar
e a Missão” (a família e a pedagogia divina, família e
a vida da Igreja, família e caminho à plenitude. E ainda engloba a plenitude
sacramental, a indissolubilidade como dom e tarefa, a fecundidade dos cônjuges,
o medo dos jovens de se casar). Por último, uma terceira parte chamada
de "A missão da família hoje" (família e evangelização,
família e formação, família e acompanhamento eclesial; família, reprodução e
educação).
Inegável é a riqueza da Igreja com opiniões mais
“acadêmicas” e outras mais “pastorais”. Tais direcionamentos, com o auxílio do
Espírito Santo deverão chegar a um “equilíbrio e complementariedade” sem
contrariar a Palavra de Deus e a Tradição Católica expressos no Credo
Apostólico.
O que será da “Família” nas discussões?
Uma certeza é de que continuará sendo defendida
como “a célula mãe da sociedade” tal
como afirmava São João Paulo II, devoto de Santa Teresa d’Ávila, grande mulher que
dizia: “Tudo passa... Só Deus não muda!”
Longe de ser um atentado contra a família como
acusam certos “tradicionalistas”, o Sínodo em nada mudará o que se entende por Indissolubilidade
do Matrimônio. A Sagrada Escritura diz: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e
os dois formarão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, não separe o homem o que Deus uniu” (Mt 19, 5-6). Por aí se vê
que, ao contrário do que alguns pensam (e outros até pretendem), permanece a
valorização do “homem e mulher” como seres que se complementam conforme a
criação divina. E isto o Papa Francisco, presidente do Sínodo, já deixou bem
claro em suas últimas declarações.
Uma serventia
Ecclesia semper reformanda: “A Igreja
sempre está se atualizando”, pois é constantemente atenta aos “sinais dos
tempos”. Um Sínodo de caráter universal pode cooperar para uma renovação. Ao
contrário de ser reunião para “inversão de valores”, reforçará a urgência de
disponibilidade à escuta, prestando atenção à realidade, para que a
Evangelização atinja seus destinatários sem adaptar-se ao bel prazer de um ou
de outro ser humano (ou grupo) que queira manipular o que Jesus Cristo disse.
Transformações Radicais?
A fraqueza dos seres humanos é grande: “Trocaram a verdade de Deus pela mentira e
adoraram e serviram a criatura ao invés do Criador, que é bendito pelos séculos.
Amém! Por isso, Deus os entregou às paixões vergonhosas: as suas mulheres
mudaram as relações naturais em relações contra a natureza. Do mesmo modo
também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejo uns para
com os outros, cometendo homens com homens a torpeza” (Romanos 1, 25-27). Os
católicos participantes do Sínodo contrastam com a valorização de ideias vistas
como a “última moda”, que a certos setores da sociedade se acomoda, como por
exemplo a aprovação do “casamento gay” ou as pressões da ideologia de gênero
defendidos por parte da mídia mundial.
O Sínodo da Família de 2015 é um sinal de
esperança pastoral. Depois do Sínodo de 2014, percebeu-se que algo mudará, como
por exemplo na agilidade necessária nos Tribunais Eclesiásticos, realçada com
os dois últimos Documentos em forma de “Motu Próprio” lançados pelo Papa
Francisco em 8 de setembro de 2015. Concretamente, o que o Papa propõe no “Mitis Iudex Dominus Iesus” e no “Mitis et Misericors Iesus” vai de
encontro ao elevado número de petições de processos para verificar possível
Nulidade, mas é fato público e notório a Igreja não dispor de elementos
preparados para muitos serviços. O Bispo de Roma e Pastor Universal, ao
valorizar a colegialidade e a responsabilidade de seus irmãos Bispos, quer que
a curto prazo a agilidade e a justiça tenham mais vez e consequentemente dêem vez
para todos os que esperam e clamam por seus direitos no seio da Igreja,
sobretudo os mais pobres.
Urge
recordar que nem os Tribunais Eclesiásticos e nem mesmo as Salas Paroquiais de
Atendimento ou Cúrias Diocesanas serão transformadas em “bancas ou agências divorcistas”. A Igreja trata com seriedade os
sacramentos. Jamais serão distribuídas declarações de nulidade matrimonial a
granel de uma maneira simplista. Urgente, justo e necessário é um incentivo e
investimento em Pastoral Familiar que atinja também divorciados e casais de
segunda união. Entre outros benefícios, evitar-se-ão muitas “Nulidades
Matrimoniais” com a realização de uma Pastoral Familiar eficiente e eficaz.
Esperança!
Augura-se entre os assuntos discutidos, que o
Sínodo de 2015 faça perceber entre outros tantos aspectos, a necessária
valorização pela preparação de casais que formarão as famílias do amanhã, o
atendimento e cooperação nos problemas familiares, bem como o incremento da
Instrução e capacitação de clérigos, consagrados e leigos. Católicos bem preparados
serão capazes de articular uma boa organização desde as bases das comunidades,
gerando mais reflexão, capacitação e vivência do Evangelho. Neste contexto
situam-se as mudanças que podem efetivamente ser executadas na ação pastoral
para as quais será preciso material humano capacitado. “A Messe é grande, os operários são poucos. Roguemos, pois, ao Senhor da
Messe que mande operários para a sua colheita!”(Mt 9, 37-38).
O Papa inspira a acolher
Francisco, Romano Pontífice, segue Jesus Cristo
que “veio para salvar a todos” e mandou “levar o Evangelho a toda Criatura” (Mc
16,15). Sabe-se que tem sido criticado
por insistir tanto na acolhida e na misericórdia não como “meras palavras”.
Observe-se, porém, que o próprio Papa é um homem de profundo testemunho cristão. Seu antecessor, São
Pio X, afirmava: “o verdadeiro cristão é
aquele que é batizado, crê em Jesus Cristo e vive conforme seus ensinamentos”.
Tais ensinamentos unem quem crê à pessoa de Jesus que passava fazendo o bem e
ensinava a acolher. “Jesus não veio
salvar os justos, e sim os pecadores” (Mt 9,13). Todavia, acolher alguém
não significa aprovar tudo o que a pessoa faz, mas ouví-la, entendê-la e
cooperar com a sua libertação. Jesus sentou-se à beira do poço com a mulher
pecadora. Ela é como cada pessoa humana. Pode lembrar toda a humanidade ou
ainda a Igreja que precisa “sentar-se com
Jesus Cristo”, transformar-se pelo Encontro com Ele e depois “para frente caminhar sem mais pecar,
anunciando a Boa Nova” (Jo 4). De um modo simplório pode-se dizer que ao
acolher um amigo evangélico em casa, uma pessoa o respeita, manifesta
“acolhida”, mas não se torna membro de sua Igreja. Se, por exemplo, eu torço
para o Atlético Paranaense, nada me impede de acolher um paranista ou um “coxa
branca” em minha casa. Acolher quem não torce para o mesmo time
não significa mudar convicções ou aprovar comportamentos. Não é o mesmo que
ceder a pressões para “ficar bem na foto” em um mundo que
valoriza a imagem e esquece da mensagem. E a mensagem do Evangelho é doce, mas
também exige conversão.
O Sínodo pretende reforçar a mensagem do Evangelho
sem mudar dogmas presentes na tradição da Igreja. Entretanto, percebe-se um anseio por “pistas
de ação” para que a Palavra e aquilo que a fé e os bons costumes preservam
desde os tempos apostólicos ajudem as pessoas em dificuldade a viverem melhor,
construindo o Reino de Deus “até que Ele venha”.
Convém recordar que Durante o Sínodo da Família
serão declarados santos os pais de Santa Teresinha do Menino Jesus. A
Canonização de Luis Martin e Zelia Guerin no Domingo 18 de outubro de 2015, às
portas do Ano da Misericórdia e dentro do Ano da Vida Religiosa quer mostrar ao
mundo uma família exemplar. Segundo afirmou o Papa Bento XV já em 1921, era uma
família a ser louvada, sobretudo pelo
“verdadeiro modelo de pais cristãos, que
não escondia a nobre satisfação de consagrar a Deus, na vida Religiosa, toda a
sua descendência”.
Desde já Rezemos pelo Sínodo da Família. Com fé,
esperança e amor aceitemos a “disciplina” da Igreja que ele irá realçar e
abramo-nos para acolher as mudanças que poderá provocar em prol de “uma
Igreja em Saída”, como pede o Papa Francisco, apresentando boas novas
diante da proposta da Boa Nova de Nosso Senhor.
Jesus
Misericordioso, confiamos e esperamos em Vós!
Padre Fabiano Dias Pinto – Presbítero do
Clero Secular da Arquidiocese de Curitiba
Mestrando em
Direito Canônico pela Pontificia Università della Santa Croce- Roma
Texto recebido por email.
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